“O máximo que pode caber a um jornalista é apontar tendências e tentar fazer o eleitor entender porque as coisas caminham de um jeito e não de outro”
Tive uma vez um chefe de fala emproada e óculos na ponta do narigão que vivia querendo cravar as coisas. Dizia que repórter bem informado tem a obrigação de dizer para onde é que as coisas caminharão.
Nessa mania dele, vivia dando mancadas homéricas. Nas últimas eleições nos Estados Unidos, primeiro bradava aos quatro cantos que daria Hillary Clinton no Partido Democrata. Deu Obama. Depois, tinha certeza absoluta que ia vencer o Partido Republicano. Deu Democrata, com o mesmo Obama do seu primeiro palpite errado. Com essa mania de tentar prever as coisas, acabava mais parecendo um jogador que só aposta no cavalo errado. Suas “barbadas” eram péssimas.
Mais novo que o tal chefe, não tenho a pretensão de querer ensinar alguma coisa a ele. Mas, no que diz respeito à minha experiência, eu diria que quem faz previsão é vidente. Sem o talento da mão Dinah, que aquele narigão também não tinha, eu digo que o máximo que pode caber a um jornalista é apontar tendências e tentar fazer o eleitor entender porque as coisas caminham de um jeito e não de outro.
Mas, como estamos no período de festas de fim de ano, não vou contrariar meu antigo chefe. Numa brincadeira amena, que combina com essa época, farei minhas previsões. Mas tomando o máximo de cuidado para não me desmoralizar completamente quando estivermos em dezembro do ano que vem. Vamos lá:
O novo presidente da República será alguém não muito simpático e terá uma péssima relação com a imprensa – A não ser que dê Marina Silva, essa previsão é batata. Estaremos entre Dilma Roussef – que quando fica irritada com as perguntas, chama o interlocutor de “santinho” ou “santinha” -, José Serra – que cultiva o hábito de ligar de madrugada para os interlocutores para reclamar de alguma coisa ou responde às questões perguntando se o repórter já leu o artigo dele na Folha – ou Ciro Gomes – que, com seus palavrões e outras reações destemperadas, dispensa maiores explicações.
A imprensa que detesta o governo continuará dizendo que Lula quer tolher a liberdade de expressão. A imprensa que adora o governo continuará dizendo que a mídia brasileira é golpista – E nós, do Congresso em Foco, vamos continuar fazendo um jornalismo equilibrado no meio dessa histeria.
O Congresso ficará ainda mais inoperante e esvaziado – Depois de junho, um abraço. Deputados e senadores só retornarão a Brasília depois das eleições de outubro. Isso se não houver segundo turno nos seus estados.
Lula terminará seu mandato como o presidente mais popular de todos os tempos – Nessa altura do campeonato, nada indica para a possibilidade de algum desastre que altere essa situação. O país vive um período raro de crescimento, as políticas sociais do governo melhoraram a vida das parcelas mais carentes da população. Fica de ruim a péssima noção que Lula passa sobre o respeito à ética na política. Em nome da conveniência, Lula aceitou qualquer comportamento, fez elogios a figuras como Severino Cavalcanti, Renan Calheiros. Reconciliou-se com Collor, o cara que fez a baixaria de apresentar à população como trunfo eleitoral uma filha do hoje presidente fora do casamento, com imagens da mãe dizendo que Lula sugerira que ela abortasse (como é que Lula perdoou uma coisa dessas, é algo que eu nunca vou entender. Que importância tinha para ele obter apoio agora de um senador inexpressivo como é Collor hoje?).
José Alencar e Dilma vencerão suas lutas contra o câncer – Isso é muito mais um desejo que uma previsão. Aparentemente, os dois andam mesmo muito bem de saúde, mas eu não arriscaria fazer uma previsão dessas. O fato, porém, é que o vice-presidente é o cara mais legal da Esplanada dos Ministérios. Só posso desejar tudo de bom para ele. E o espírito natalino, a solidariedade, me fazem estender o mesmo desejo a Dilma.
A oposição dirá que o governo não cumpriu nem 10% do PAC. O governo dirá que o cronograma do PAC foi cumprido em quase 100% - E nós vamos ficar apenas com aquela eterna certeza de que o dinheiro público podia ser mais bem aplicado e que não conseguimos ver o resultado do pagamento dos nossos altos impostos nas nossas vidas.
Acontecerá mais um escândalo de grandes proporções. E o povo assistirá a ele como assiste a uma novela – Tomo essa imagem de um leitor que esteve reunido com a equipe do Congresso em Foco há alguns dias (não digo o nome dele porque não sei se ele me autorizaria). Ele observou com propriedade que a população parece assistir aos seguidos escândalos políticos como assiste a uma novela. Identifica o vilão. Elege os mocinhos. Torce para eles. Mas, quando o escândalo termina, simplesmente muda de canal em busca de outro escândalo para assistir. Por alguma razão estranha – e que merece uma análise mais aprofundada em alguma outra coluna -, a enxurrada de escândalos políticos brasileiros tornou-se tão banal que ficou desmobilizadora. O máximo que parecemos ter hoje são os indignados da internet (o pessoal que brada dos seus teclados que alguma coisa tem que mudar, que não dá mais para ficar assim, mas não levanta da cadeira). Talvez o mensalão do Arruda, pela quantidade de imagens chocantes, tenha tirado afinal o eleitor brasileiro dessa letargia. O movimento que acontece em Brasília é interessante e tomara que cresça. Aos telespectadores de escândalo, um pedido de Natal: saiam dos seus sofás, venham para as ruas!
O Congresso em Foco elegerá no fim do ano os melhores parlamentares de 2010 – Já estou ficando cretino.
*É o editor-executivo do Congresso em Foco. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília em 1986, Rudolfo Lago atua como jornalista especializado em política desde 1987. Com passagens pelos principais jornais e revistas do país, foi editor de Política do jornal Correio Braziliense, editor-assistente da revista Veja e editor especial da revista IstoÉ, entre outras funções. Vencedor de quatro prêmios de jornalismo, incluindo o Prêmio Esso, em 2000, com equipe do Correio Braziliense, pela série de reportagens que resultaram na cassação do senador Luiz Estevão
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