.» Encantam-se com elas, enchem-nas de mimos, juram amor eterno, protegem-nas das tempestades, espalham orgulho e vaidade. A relação entre pais e filhas é muito diferente da relação pais-filhos. Diferente nas palavras, nos afectos, nos abraços. Não é menos importante, nem menos especial. É apenas diferente. Porque homens e mulheres são diferentes, porque pai e mãe desempenham papeis diferentes também. «Obviamente, sem os discriminarem, é bom que os pais tratem filhos e filhas de forma diferente. Essa atitude dá coesão à identidade sexual das crianças, que é a base da sua identidade como pessoa. Um pai que trata as filhas de forma diferente dos filhos está a promover essa solidez na construção da identidade», explica Filipe Sá, psicanalista e docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Saber ver as diferenças é, afinal, desejável. «Educar é permitir a individualidade. A ideia que os filhos devem ser tratados todos da mesma maneira não faz sentido. As crianças são diferentes umas das outras, têm necessidades distintas», esclarece o pedopsiquiatra do Hospital D. Estefânia, António Trigueiros. Uma postura ainda mais correcta, defende o médico, quando se trata de filhos e filhas: «Rapazes e raparigas têm formas diferentes de sentir o mundo, isso obriga a que as relações com os pais tenham um carácter diferente.»
A diferença básica está no olhar do pai, elucida Filipe Sá. «Ele olha e vê coisas distintas nos meninos e nas meninas. Num rapaz vê um semelhante, numa rapariga vê o diferente.» Comportamentos diferenciados são, por isso, compreensíveis: «O desempenho físico é mais valorizado nos filhos, a capacidade afectiva é mais promovida nas filhas. É como se a menina fosse logo a mulher.» É bom que assim seja, explica Filipe Sá. «Um pai deve olhar para os filhos e não ter medo de ver diferenças.»
Pais e filhas desenvolvem uma relação muito particular. Onde se joga o presente e o futuro. «A rapariga necessita de ser admirada como "menina" pelo pai. Ser como a mãe ela já é. Ela agora precisa de ser reconhecida pelo outro, pelo diferente. O outro que pertence ao género que ela, um dia mais tarde, vai desejar», explicita Filipe Sá. A sedução infantil, mais frequente nas meninas, é apenas uma arma para «captar a atenção do pai de modo a que este valorize a graça, a beleza e o encanto das filhas.» É importante que ele corresponda, acrescenta o psicanalista. «Que valorize o feminino, que goste da mulher, situação diferente de gostar de mulheres.»
«O embaixador do mundo exterior»
O pai representa a descoberta. «Ajuda a criança a separar-se da mãe. É um ponto de partida no desenvolvimento», afirma António Trigueiros. O salto para a autonomia. Nas palavras de Filipe Sá, o pai «ajuda a criança a diferenciar o seu mundo do mundo materno e a criar espaço para outras relações. Surge como o terceiro, o vértice da relação».
Para as meninas, é alguém que lhes «organiza a diferença de sexos», afirma o psicanalista. Sendo tão diferente delas, «contribui para a identificação ao feminino.» O contacto físico é, por isso, muito importante, defende Filipe Sá: «O pai é o primeiro homem da vida das filhas. É essencial que seja conhecido do ponto de vista sensorial. Explorar o corpo do pai, onde tudo é diferente - a barba, a robustez muscular, o cheiro -, é uma descoberta.» Um passo para conhecer melhor o lado de lá da vida, o masculino. «As raparigas aproximam-se do pai porque querem conhecer o diferente. É como se o pai fosse o embaixador do mundo exterior.»
Há uma relação especial, com maior intimidade? António Trigueiros prefere o conceito de «modalidades de comunicação» diferentes: «Com os rapazes, a comunicação faz-se mais através da acção. Com as raparigas, os jogos são de outra natureza.»
«Quando o pai «passa à história»
Durante a infância, sobretudo entre os três e os cinco anos, pais e filhas desenvolvem uma relação de grande proximidade. Com muita sedução à mistura. Mas «crescer é resolver essa dependência», explica António Trigueiros. «O que volta a pôr a filha "no seu lugar", ou seja, o que normaliza a relação, é que o pai e a mãe se mantêm ligados e a criança não tem acesso àquela relacionamento.» A aproximação ao pai é um ponto de partida, «não de chegada». Depois, há que «abdicar dele para nos lançarmos na vida».
É comum as raparigas idealizarem muito o pai. E transportarem essa imagem na vida adulta. Quer tenham tido um pai muito presente ou, pelo contrário, muito distante. «Estes pais tomam uma dimensão excessiva e tornam-se figuras muito poderosas», elucida António Trigueiros. Mas, na vida adulta, «os pais são passado, eventualmente um pouco de presente, mas não podem ser o futuro.» Procurar no marido a figura do pai é natural, mas apenas em doses muito moderadas: «O companheiro tem de ter um "toque" de pai, mas isso não pode ocupar o espaço da relação.»
É importante estar aberta a «outros encontros», aponta Margarida Fornelos, psicóloga. «Transformar o pai que trazemos dentro de nós. Num desenvolvimento saudável, há uma altura em que o pai passa à história
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