O Teatro na Educação, ou Teatro Educativo, ou ainda Teatro Pedagógico, consiste em trazer para a sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las na comunicação do conhecimento. As possibilidades do Teatro como um instrumento pedagógico são bem conhecidas. Esteja o aluno como espectador ou como figurante, o Teatro é um poderoso meio para gravar na sua memória um determinado tema, ou para levá-lo, através de um impacto emocional, a refletir sobre determinada questão moral. Esta é, portanto, uma questão assente, ponto do qual podemos partir para examinar os aspectos práticos de sua utilização pelo Pedagogo.
O enfoque aqui adotado não é o da preocupação com crianças que têm problemas de aprendizagem, mas com o comportamento social e moral do jovem psicologicamente normal, não apenas apto mas também desejoso de um aprendizado de valores, de aspectos psicológicos do comportamento, de opções vocacionais, de Boas-maneiras e Etiqueta para bem relacionar-se com pessoas, etc. O Teatro será um recurso opcional importante para a Formação Comportamental, que é uma atividade pedagógica proposta neste Site para ser inserida na Orientação Educacional.
Não é apenas no Teatro Pedagógico que a Arte é primeiramente instrumental. Isto se dá também na psicoterapia, com a técnica conhecida como Psicodrama, a qual não deve ser confundida com o Teatro pedagógico. É conveniente ressaltar que, enquanto para o Psicodrama a livre expressão dos participantes é útil à terapia e é um princípio básico do método, no caso do Teatro Pedagógico ela será um contra-senso. Não é possível a livre expressão, ou o aspecto pedagógico ficará perdido. Para que o objetivo pedagógico possa ser alcançado, a representação deve ser fiel a um script esquematizado em discussão prévia com os alunos.
No caso do Teatro Pedagógico, não existe a figura do dramaturgo profissional: A peça será escrita, montada e dirigida por um pedagogo e seu trabalho não será destinado ao grande público, mas visa apenas a educação dos alunos que estão sob sua responsabilidade educacional. Cumpre a função de direção, acrescida da concepção da história – ou do trabalho da adaptação da peça literária à linguagem teatral – que seria o trabalho do Dramaturgo. O Orientador Educacional será referido nesta página simplesmente por "Diretor de Teatro".
Despertando o interesse. O Orientador deve ter em mente que o teatro é arte e como tal seu objeto é o sentimento de aceitação em relação ao seu tema. Mesmo o teatro ou o cinema que é puramente documentário visa o convencimento do espectador, e convencimento é sentimento. Por sua vez, o teatro escolar não é um projeto que possa ser imposto. É preciso ser aceito pela turma. E a aceitação da forma teatral pelos alunos dependerá da arte que o Orientador praticará para convencê-los. Ele deve começar por atrair a simpatia dos alunos para a proposta de se fazer o teatro.
O Orientador, como "arte de convencimento", poderá mostrar as alternativas que terá para a sua atividade de formação comportamental: conferências, seminários sobre temas, etc. É bem possível que no exame dessas alternativas os alunos venham de pronto a preferir o teatro, atraídos pela natureza participativa e a interessante oportunidade de “viver tipos diferentes” no palco. Além de atuar, ainda terão que cuidar do cenário e do figurino, outros tantos desafios.
Porém, se o teatro for uma atividade inserida no trabalho escolar, todos deverão comparecer e participar distribuindo-se em espectadores e atores. O trabalho de convencimento será orientado para a apresentação voluntária de candidatos a atores, cenógrafos, eletricistas, etc.
O tema de uma obra de arte precisa corresponder a uma inquietação clara ou semioculta no espírito do espectador. Assim, após uma preleção sobre o efeito educativo do teatro, o Orientador poderá propor a escolha de um tema por votação.
Lidando com ciúmes. Todos os alunos mais desinibidos desejarão o papel principal masculino ou feminino. O Orientador deve focalizar os papeis secundários e mostrar o quanto também serão atraentes pela necessidade, muitos vezes, de muito maior habilidade e talento para representar que para os papeis principais. Fazer o papel secundário de uma velhinha pode ser muito desafiador e divertido. Será necessário uma maquiagem especial, saias compridas, uma sombrinha, giz ou bombril nos cabelos para torná-los grisalhos, etc.
Quebra de poder. Se houver um ou mais grupos dominantes na turma, seus líderes precisam ser de pronto contemplados com a promessa de alguma função importante na equipe que vai se formar para a representação. Miriam Bevilacqua, em seu Descobrindoo teatro. – Uma viagem da sala de aula ao palco (Ed. Paulinas, S. Paulo, 2002; 72 p.) narra a constituição de uma equipe de teatro escolar e como os conflitos entre dois líderes criaram problemas mas, devido ao caráter absorvente da atividade teatral, ao longo dos ensaios foram aos poucos solucionados.
Para ensinar, a peça precisa primeiro divertir. Precisa que seus personagens entrem em confronto, para que o espectador tome partido. A ação é que pode ser educativa, fazendo que a lição que se quer dar esteja no papel do personagem vencedor, e o mal representado nas ações do perdedor. O monólogo ou o diálogo que contem palavras de louvor ou de condenação tendem a tornar a cena enfadonha e o objetivo pedagógico estará irremediavelmente perdido. No entanto, uma ação que mostra generosidade ou que castiga a maldade será vista com interesse e será sempre lembrada.
Com o propósito de tornar a história mais divertida, o Diretor de Teatro pode associar a ela pequenos dramas paralelos, mesclados à sua trama principal. Personagens secundários podem estar envolvidos em ações que apelam a certas emoções básicas, como uma pequena traição, uma mal disfarçada antipatia entre dois personagens, a bisbilhotice de comadres, um empregado pateta, um vendedor de loteria impertinente, a arrumadeira preguiçosa que varre o lixo para debaixo do tapete, o ar superior do primeiro aluno da turma, uma demonstração de afeição aos animais por uma criança, ou o que possa acrescentar em humor, acirrar disputas, ou salientar qualidades dos personagens principais.
O texto consistirá basicamente em um diálogo através do qual as mensagens são passadas aos próprios atores e aos espectadores. "Escrever para teatro não é difícil. O único cuidado que se deve ter é com a linguagem, que deve ser bem fluente", dizia o professor Ivaldo José de Carvalho Dramaturgo e Diretor de Teatro.
No entanto, apesar de sua menor importância para a peça, a linguagem correta é o primeiro aprendizado que o aluno terá desse trabalho didático. A história pode ser popular, mas a língua tem que ser corretamente falada, e este já é um ganho educativo. O dramaturgo precisa, por muitas razões, empregar o expediente técnico da repetição (duas a três vezes) e do paralelismo, de modo a manter sua peça clara e compreensível.
Limitações ao trabalho do Diretor de Teatro. O teatro pedagógico trabalha sob influência de muitas restrições. A primeira está no fato de não contar com atores, nem profissionais nem amadores. Depende de encontrar entre os alunos aqueles com mais talento para aprender noções da arte de representar. Leva aí o Diretor escolar a vantagem de não estar no caso daqueles dramaturgos que são obrigados a escrever para grandes estrelas do teatro e têm que criar seus personagens adaptados a talentos duvidosos ou muito peculiares.
Em uma turma só de meninos, travestir algum para um papel feminino, ou vestir a heroína como um rapaz deve ser um recurso extremo, porque é pouco convincente. Também não convence um bigodão em um rosto delicado e um físico frágil. A reação de uma platéia de jovens pode incluir a inveja dos que não foram escolhidos para atuar, ou de grupos adversários entre si, e por outras razões. O diretor da peça terá, com certeza, muitas arestas a aparar durante a preparação da apresentação para a integração dos alunos, inclusive daqueles que serão apenas espectadores, e especial cuidado se for admitir na platéia a participação de elementos estranhos à Escola.
Uma segunda limitação importante é o alto custo de um cenário. O palco e o guarda roupa representam uma limitação menor.
A sagacidade do Orientador Educacional, improvisado em autor e Diretor de Teatro, precisa ir um pouco além da escolha apropriada do tema. Ele certamente já tem em vista o que deseja ensinar através da peça e a quem as mensagens serão dirigidas. A escolha do elenco de atores para a representação será crucial para que atinja seus objetivos. Pode-se convidar o aluno mais indisciplinado a fazer um personagem disciplinado, ao mais arrogante, fazer o papel de um personagem cordato e conciliador, ao menos responsável, o papel de um personagem que, no drama, está carregado de graves responsabilidades, etc. Em caso de resistência, uma estratégia seria talvez dizer aos alunos que o bom ator é aquele que é capaz de representar o papel que ele próprio considere ser o mais difícil para si.
No caso de um aluno procedente de um bairro da cidade onde a insegurança for maior, onde supostamente ele já viu uma arma, ou já pegou em uma arma, dar-lhe o papel de um policial. Nesta mesma linha, perguntar qual conhece alguém viciado em drogas, sabe dos efeitos de drogas, ou pode enumerar variedades de drogas, e lhe dar o papel de um assistente social na peça, ou de um personagem que procura salvar viciados, ou ainda o papel dramático de um viciado que deseja recuperar-se mas é ameaçado por traficantes, etc. Alunos dessas áreas, e que frequentemente vão mal nos estudos, têm um surpreendente conhecimento do mundo que os cerca e o teatro pode lhes dar a oportunidade de expressar suas idéias sociais e seus sentimentos. Em contra partida, o teatro poderá lhes passar lições morais e inspirar confiança em melhorar sua própria condição social. Os papeis ruins podem ficar com personagens que são apenas mencionados, e não serão encarnados por nenhum aluno.
1 comentários:
coitado do orientador,que tem que toda essa turma.,.,
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